NUMA atitude de classificação mais consentânea com a vivência dos cidadãos, podemos distinguir saibros, areias fluviais, areias marinhas, areias eólicas e areias glaciárias.
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Saibros
Os saibros (do latim sablum, areia), que alguns autores designam por arena, são areias não deslocadas face à rocha (de composição granítica ou afim) a partir da qual se formaram por arenização (1), exibindo composição e textura determinadas pelo tipo de rocha-mãe.
São ricos em grãos de quartzo e contêm tanto ou mais feldspato consoante a natureza deste aluminossilicato (2) e o grau da referida alteração. Corresponde-lhes, grosso modo, o grit, dos autores ingleses e o gore, dos franceses. Se a rocha-mãe for micácea, as palhetas de mica estarão presentes, praticamente intactas no caso da moscovite, e mais ou menos alteradas (3) no caso da biotite.
No território nacional encontram-se saibros, por vezes exploráveis, onde quer que haja afloramentos de granitóides (4) e de gnaisses, como, por exemplo, nos distritos de Vila Real, Viana do Castelo, Porto, Aveiro, Viseu, Guarda, Coimbra e Évora. O caulino explorado pela indústria cerâmica, na faixa litoral a norte de Aveiro (Alvarães, Casais, Parada, Viso de Cima, Custóias, etc.) é retirado de saibros graníticos e gnáissicos, como resultado da alteração, quer meteórica, quer deutérica (5) dos respectivos feldspatos.
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Areias fluviais
As areias fluviais são constituídas por grãos cujas dimensões, forma, natureza e proporções relativas variam, sobretudo, em função da litologia local, do clima, das características do relevo, da distância percorrida e, ainda, de aspectos relacionados com a sua alterabilidade, dureza, fragilidade, etc. No que se refere à forma, os grãos variam, normalmente, entre angulosos e arredondados. A granularidade, mais grosseira ou mais fina, bem como a maior ou menor dispersão de calibres reflectem as condições locais que, como é natural, variam com a pluviosidade, a topografia e, consequentemente, com a energia do fluxo aquoso, com a distância percorrida, etc. As areias fluviais alimentam aluviões, estuários e deltas que, como sistemas deposicionais de transição, lhes imprimem as suas marcas, sobretudo, texturais (6) e estruturais (7).
Nas regiões continentais dominadas por granitóides e gnaisses, as areias fluviais são essencialmente quartzosas e quartzo-feldspáticas, mais ou menos micáceas nos troços menos energéticos, propícios à acumulação de detritos mais finos e de palhetas de moscovite e/ou biotite.
Nas regiões de xistos e grauvaques, como são exemplos as Beiras e grande parte do Alentejo, as areias transportadas fluvialmente reflectem essa composição, sob a forma de grãos destas rochas (mais ou menos boleados nos de grauvaque e mais ou menos achatados e arredondados nos de xisto), a que se associam alguns grãos de quartzo, no geral provenientes do desmantelamento de filões e filonetes de quartzo leitoso, frequentes nestas formações do soco hercínico. Nestas regiões há ainda a registar, por vezes, uma componente arenosa rica em quartzo, mais ou menos bem marcada, proveniente da retoma, por erosão, de depósitos cenozóicos de cobertura e de níveis de terraços pleistocénicos existentes ao longo de alguns troços dos principais cursos de água.
Nos rios e ribeiras das regiões vulcânicas, no interior ou nas margens dos continentes e em muitas ilhas, as areias são habitualmente escuras, em virtude da presença significativa de silicatos ferromagnesianos próprios da rochas basálticas (sensum lato), com destaque para piroxenas, anfíbolas e olivina, de óxidos negros (magnetite e ilmenite) ou, ainda, de piroclastos. São deste tipo as areias dos cursos de água das nossas ilhas atlânticas.
Por vezes, as condições geológicas e ambientais determinam a ocorrência de concentrações – placers – com interesse na exploração de minerais como o ouro e a platina, cassiterite, columbo-tantalites, schellite, magnetite, ilmenite, rútilo, zircão, monazite, diamantes, corindos (rubis e safiras), topázio e berilos (águas-marinhas, heliodoro, esmeraldas) etc.
Em território nacional, areias com cassiterite e columbo-tantalites foram alvo de exploração mais ou menos artesanal, em aluviões de afluentes dos rios Zêzere, Tâmega e Mondego, em Nave de Haver e em Vouzela. As aluviões do Côa transportam schellite e as do Douro, do Tejo (8), do Erges, do Lima e outros têm sido alvo de garimpo na procura e/ou exploração de ouro. A “Mina de Ouro do Príncipe Regente”, a sul de Caparica, na arriba de areias pliocénicas, foi explorada no século XIX.
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Areias marinhas
As areias neríticas (9) e as areias de praia das latitudes temperadas e frias são, na imensa maioria, essencialmente quartzosas (10), via de regra mais arredondadas e polidas do que as areias fluviais, atingindo, muitas vezes, formas elipsoidais e esferoidais muito perfeitas. São, geralmente, mais bem calibradas do que aquelas. As areias do nosso litoral e as da plataforma continental que o margina correspondem essencialmente a este tipo. Algumas, em especial as das praias do norte do país, são quartzo-feldspáticas, reflectindo a natureza do soco predominantemente granítico na vizinhança imediata, enquanto que as do centro e do sul, incluindo as praias algarvias, são, essencialmente quartzosas, em grande parte, retomadas das formações areníticas das Orlas Mesocenozóicas e das Bacias Cenozóicas. Umas e outras têm na deriva litoral o principal veículo de alimentação.
Esta deriva e, sobretudo, o constante vai vem dos grãos de areia arrastado pela rebentação da vaga aumenta enormemente a percentagem de quartzo, muitas vezes quase à exclusividade, dada a grande diferença de comportamento entre esta espécie ultrastável e as restantes, mais alteráveis, mais frágeis e menos duras. Esta mesma interminável movimentação acentua o boleamento dos grãos.
Além do quartzo e de outros grãos minerais, quase sempre em proporções muito reduzidas, as areias marinhas exibem normalmente uma componente bioclástica, mais ou menos significativa consoante as latitudes e os locais, formada por fragmentos de conchas, conhecida entre os especialistas por foramol, acrónimo construído com as primeiras sílabas das palavras foraminífero e molusco.
As areias das praias das nossas ilhas atlânticas, à semelhança das areias fluviais locais, são escuras devido à presença de minerais ferromagnesianos, de magnetite e de ilmenite. Nestas areias há, ainda, uma componente significativa formada por bioclastos carbonatados.
Para além das componentes terrígena (siliciclástica) e biogénica, as areias das zonas distais da nossa plataforma continental incluem grãos neoformados de glaucónia (11). Quando há excesso deste tipo de grãos, as areias apresentam cor esverdeada.
Entre os sedimentos neríticos e litorais das regiões intertropicais, merecem destaque as areias carbonatadas do tipoclorozoan (acrónimo construído com as primeiras sílabas das palavras clorofícea, alga verde marinha e zoantário, coral recifal), um tema a retomar no capítulo referente às rochas sedimentares carbonatadas. Embora tenham um comportamento dinâmico semelhante ao das areias, são componentes essenciais das rochas carbonatadas. Deve acentuar-se que estas partículas não são terrígenas. São, repete-se, o que designamos por bioclastos.
A sedimentação detrítica litoral pode dar origem a concentrações de minerais exploráveis de tipo placer. São exemplos as areias com magnetite e ilmenite no litoral atlântico de Marrocos. Ao largo do Japão exploram-se areias negras (magnetite e ilmenite) a cerca de 150m de profundidade. Ao largo da Namíbia, até 200 m de profundidade, “aspira-se” a areia que arrasta consigo diamantes, numa produção que encoraja a actividade.
Nas últimas décadas, o crescimento urbano das zonas ribeirinhas e as limitações que começam a ser colocadas em termos ambientais, têm dirigido a atenção dos agentes da indústria extractiva de inertes (areias e cascalho) para as inesgotáveis reservas ao seu dispor na margem continental, nomeadamente na zona nerítica. Cerca de 15% dos inertes utilizados no Reino Unido são explorados nesta zona, havendo mesmo extracção para exportação para a Holanda, por exemplo. No Japão, o valor daquela cifra sobe para cerca de 20%.
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